Alimentação Intuitiva (Parte 1)
A Alimentação Intuitiva foi definida pelas nutricionistas americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch como uma alternativa ao modelo nutricional tradicional de prescrição de dietas.
Alimentar-se de forma intuitiva é redescobrir o prazer em comer, é saber ouvir seu corpo, decifrar os sinais que ele manda e respeitá-los sem julgamentos. A ideia é se livrar de pensamentos obsessivos ou dicotômicos a respeito de comida e de flutuações constantes de peso (efeito sanfona), criando assim uma relação saudável e pacífica com a alimentação e o próprio corpo. A perda de peso é deixada em segundo plano, não sendo o foco do processo, mas podendo ocorrer se necessário como consequência, uma vez que muitas vezes a razão do seu excesso está relacionada às questões trabalhadas.
Os 10 Princípios da Alimentação Intuitiva são:
Rejeite a mentalidade de dieta
Honre sua fome
Faça as pazes com a comida
Desafie o policial alimentar
Sinta sua saciedade
Descubra o fator satisfação
Lide com suas emoções sem usar a comida
Respeite seu corpo
Exercite-se e sinta a diferença
Honre sua saúde com nutrição gentil
Hoje vou falar sobre os Princípios 1, 2 e 3:
1. Rejeite a Mentalidade de dieta
Em primeiro lugar, é muito importante entender que dietas restritivas não funcionam e prejudicam a saúde:
- Desregulam as funções de fome, apetite e saciedade;
- Não promovem emagrecimento sustentável a longo prazo;
- Causam danos físicos (efeito sanfona, otimização da capacidade do corpo em armazenar gordura e consequente aumento da gordura corporal e diminuição do metabolismo e gasto energético),
- Causam danos psicológicos e emocionais (frustração, diminuição da autoestima, perda do prazer em comer, desenvolvimento de transtornos alimentares como compulsão alimentar, bulimia, anorexia e ortorexia).
Alguns exemplos de discursos comuns da mentalidade de dieta: “emagreça tantos quilos em tantos dias”, “carboidrato engorda”, “gordice”, “você pode comer isso porque é magra, eu que sou gorda não posso”, “depois dos exageros de ontem, preciso fazer um detox”, “enfiei o pé na jaca”, “para emagrecer é preciso foco, força e fé”, entre tantos outros.
Parar de fazer dieta e rejeitar qualquer fala, pensamento ou julgamento provenientes de uma mentalidade de dieta, sejam eles em relação à comida ou ao peso corporal, são o primeiro passo para se tornar um comedor intuitivo e começar a entender quais as suas reais necessidades de o quê, quanto e quando comer.
2. Honre sua fome
Fome é um mecanismo biológico normal e básico para nossa sobrevivência, não é algo ruim ou errado. Ouvir e sentir seu corpo, compreender os sinais de fome enviados por ele e respeitá-los provendo energia e nutrientes adequados é fundamental. Podemos confiar em nossos mecanismos biológicos para entender o quê e o quanto precisamos comer. Quando ignoramos esses sinais (pessoas que fazem dietas restritivas, pessoas com rotinas demasiado ocupadas, etc) e nos deixamos ficar com fome excessiva, no momento em que nos permitirmos comer dificilmente seremos capazes de identificar nossas reais necessidades e não teremos critério algum sobre qualidade e quantidade.
3. Faça as pazes com a comida
Parar de julgar alimentos como bons ou ruins e classifica-los como certos ou errados, elevando-os todos ao mesmo patamar emocional de prazer e importância.
Alimentos proibidos são elevados a um valor extra especial em nossa mente e quando em restrição, tudo o que queremos é aquilo que nos foi proibido. Biologicamente essa privação só pode ser mantida por um determinado tempo, o que frequentemente leva a episódios de compulsão e consequentemente culpa.
Fazer as pazes com a comida envolve dar-se permissão incondicional para comer. Não estamos falando de comer tudo o que vemos pela frente, em qualquer quantidade, sem considerar o que gostamos, o que nos faz bem, nossa fome... isso pode não ser satisfatório ao final e ainda pode causar um desconforto físico.
Estamos falando em comer qualquer alimento que tenha vontade, trazendo a atenção para o momento presente e percebendo as sensações e os sentimentos despertados, observando a satisfação em comer tal alimento e comer a quantidade suficiente para saciar o corpo e manter o conforto físico, observando se traz prazer e bem-estar. Afinal, se a experiência não trouxer prazer, qual o sentido de repeti-la?
A permissão incondicional de comer vem frequentemente acompanhada do medo de não conseguir parar de comer determinado alimento considerado proibido. Graças ao Princípio da Habituação, sabemos que isso não acontece: qualquer experiência que seja repetida inúmeras vezes passa a ser considerada menos interessante a cada uma delas – no caso de dar-se permissão para comer um alimento proibido, o princípio da habituação fará com que ao longo do tempo ele saia do pedestal e passe a ter o mesmo valor emocional de outros alimentos. Além disso, sabendo que se houver vontade de comer esse alimento novamente você irá respeitar essa vontade, muito improvavelmente você terá impulsos de comer compulsivamente e com culpa.
FONTE: "Intuitive Eating - A revolutionary program that works" - Evelyn Tribole e Elyse Resch - Editora St Martin's Griffin - New York, 2012