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Alimentação em Paz


Hoje em dia, quando o assunto é Nutrição e Saúde na mídia e nas redes sociais, o que vemos?

Emagreça, seja fitness, faça um detox, seque a barriga, conte calorias, coma limpo, tenha força, foco e fé, no pain no gain, coma de três em três horas, coma alimentos milagrosos e exclua os venenos e as gordices, feche a boca, não ponha o pé na jaca, faça dieta: low carb, paleolítica, cetogência, jejum intermitente, da sopa, dos pontos... dietas e mais dietas”


Diariamente somos bombardeados por todos esses termos, todas essas regras, ideias, promessas. A cada dia surge um novo termo, uma nova regra alimentar a ser seguida e uma nova dieta prometendo milagres. E em meio a tudo isso, nos sentimos totalmente confusos e aflitos. Como fazer nossas escolhas alimentares? Como foi que comer passou a ser um problema tão grande em nossa vida? Em meio a tanto terrorismo nutricional, como viver em paz com nossa alimentação?


4 PASSOS para uma Alimentação em Paz

(Esta obviamente não é mais uma regra alimentar, mas sim um processo profundo de autoconhecimento. Pode ser preciso ajuda profissional, e será preciso paciência e tempo, que vai ser diferente para cada um)

  1. Fazer as pazes com a comida

Quando pensamos em comida, é muito comum um pensamento dicotômico: alimentos saudáveis ou não saudáveis, bons ou ruins, não engorda ou engorda, pode ou não pode, certo ou errado.

Podemos sim dizer que alguns alimentos possuem um perfil nutricional mais amplo que outros: um copo de suco verde possui um perfil de nutrientes mais amplo que um bolo do chocolate com recheio e cobertura. Mas isso não significa que o suco seja o mocinhos e o bolo seja vilão.

Devorar um bolo de chocolate inteiro rapidamente e sem atenção porque está se sentindo frustrado provavelmente não fará bem ao seu corpo e nem mudará a causa da emoção, mas degustar um pedaço aproveitando todo o prazer que ele oferece pode não causar nenhum mal à sua saúde e pode te trazer um pouco de conforto.

Da mesma forma, consumir suco verde diariamente pode ser extremamente benéfico para a saúde, mas fazê-lo sem prazer e tornar-se obcecado por isso pode até virar um transtorno alimentar (já ouviu falar de ortorexia?).

Antes de julgar e classificar, é preciso colocar as coisas dentro de um contexto. De forma isolada, nenhum alimento é bom ou ruim. É sempre importante lembrar que a comida possui inúmeros papéis em nossa vida: não comemos apenas para suprir nossas necessidades nutricionais. A comida também está relacionada ao nosso prazer, emoções, história de vida, memórias, cultura e à nossa socialização (já participou de algum encontro social em que não havia comida ou bebida envolvidos?).

Quando demonizamos um alimento (ou um grupo de alimentos ou um nutriente específico), e decidimos que é preciso restringi-lo da nossa alimentação, invariavelmente entramos em um ciclo de restrição e compulsão: restrição prolongada leva à privação física e emocional, que gera revolta em relação às regras auto impostas, que acarreta em episódios de compulsão, que pode ser acompanhada de purgação e sempre irá levar à mais restrição e assim por diante. Se fazemos as pazes com todos os alimentos e paramos de nos impor restrições, quebramos esse ciclo e passamos a ter uma melhor relação com a comida.


  1. Compreender: fome, saciedade e satisfação

Nosso corpo é perfeitamente capaz de nos orientar em relação ao “quando”, ao “o quê” e o “quanto” comer. Infelizmente, aprendemos a ignorar nossos sinais internos de fome, saciedade e satisfação com o passar dos anos ao pensar que precisamos seguir uma regra externa para sermos mais saudáveis.

Reconectar-se com os sinais internos de fome e saciedade é perguntar-se antes, durante e após as refeições: quanto de fome estou sentindo? Quão saciado estou? Precisamos comer quando sentimos fome, e tanto quanto for necessário para nos sentirmos confortavelmente saciados.

E para garantir a satisfação, pergunte-se: o que eu realmente quero comer agora?

Se eu sou uma pessoa que gosta de beber uma bebida quentinha no desjejum (como café, café com leite ou chá) mas passo a tomar suco verde só porque li em algum lugar que isso é mais saudável, estarei me satisfazendo? Isso obrigatoriamente será melhor pra mim?

Se eu estou morrendo de vontade de comer um bolo de chocolate mas, porque acho que isso não é saudável, como ao invés dele uma banana, ficarei satisfeita? Provavelmente não, e não importa quantas bananas eu comer, não vou me satisfazer até que eu resolva comer o bolo.

Assim, observe os sinais de seu corpo e respeite-os com carinho.

  1. Atenção para o "comer emocional"

Comer está estritamente relacionado às nossas emoções, e é praticamente impossível desassociar uma coisa da outra.

No entanto, é importante trazermos a atenção para a hora de comer e ter consciência sobre o porquê estamos comendo. Podemos nos perguntar se é porque estamos com fome, e nesse caso vamos procurar compreender qual seu nível e o que temos vontade de comer. Podemos, porém, perceber que não decidimos comer porque temos fome, mas porque estamos sentindo uma determinada emoção (como tristeza, frustração, tédio, solidão...). Ao dar nome para o sentimento, fica mais fácil entender o que realmente precisamos para responder a ele: pode ser que uma comida específica possa ajudar a me sentir melhor, mas pode ser que o que eu esteja precisando não tenha nada a ver com isso: posso estar precisando conversar com um amigo, dar um passeio, ouvir uma música, buscar ajuda através de terapia, permitir-me sentir a emoção por alguns minutos, buscar uma outra fonte de prazer e diversão que não seja a comida.

Comer em resposta às emoções pode ser normal, mas passa a ser disfuncional se o fazemos inconscientemente ou se a única forma de lidarmos com nossas emoções seja através da comida, utilizando-a como um anestésico ao invés de lidar com a causa do sentimento.

  1. Praticar a atenção plena ao comer (Mindful Eating)

Comer com atenção plena é estar inteiramente presente na hora de comer: dar uma pausa nas tarefas diárias, desfazer-se de distrações, sentar-se em um ambiente tranquilo e agradável. É parar para observar tudo o que está acontecendo dentro do corpo, todas as sensações e os sinais internos. É saborear cada instante sentindo os aromas, sabores, texturas, percebendo o prazer, as memórias e emoções que afloram. É ter consciência total sobre a experiência, sem fazer nenhum julgamento ou classificação.


Em suma, uma alimentação saudável engloba todos os grupos alimentares: de suco verde a bolo de chocolate, de tapioca a pão, de barrinha de cereais a pão de queijo, de arroz integral a um prato de macarrão, de hambúrguer vegetariano a hambúrguer tradicional, de chá de hibisco a chocolate quente, de frutas frescas a torta de morango. Além disso, alimentação saudável é aquela que leva em conta todos os papéis que a comida representa e principalmente, que nos traz prazer. Alimentação saudável jamais será igual para todas as pessoas, pois cada indivíduo é único e precisa ver sentido naquilo que come.

Todos podem e todos merecem viver em paz com a alimentação!

 

Livros para saber mais:

- "Nutrição Comportamental" - Organizadoras Marle Alvarenga, Manoela Figueiredo, Fernanda Timerman, Cynthia Antonaccio (para nutricionistas)

- "Intuitive Eating" - Evelyn Tribole e Elyse Resch

- "O Peso das Dietas" - Sophie Deram

- "A Dieta Ideal" - Desire Coelho e Marcio Atalla

- "Em Paz com a Comida" Nathália Petry e Lydiane Bragunci

- "Mulheres, Comida e Deus" - Geneen Roth

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