Dieta - Por que NÃO?
Atualmente, existem mais dietas e produtos “emagrecedores” do que nunca, mas a obesidade é também maior do que nunca, atingindo 1 em cada 5 adultos e 15% das crianças no Brasil.
Ao mesmo tempo, os transtornos alimentares estão em ascensão e 9 em cada 10 mulheres apresentam insatisfação corporal, além de frustração, baixa autoestima e baixa autoconfiança.
Se você já fez dieta alguma vez na vida, talvez já tenha percebido que elas não só não produzem resultados duradouros como também engordam a longo prazo. E é por esses motivos que eu não recomendo que você comece uma nova dieta!
Mas, por que isso acontece? Explico:
Tudo começa quando há insatisfação corporal, e por esse motivo decido restringir a minha alimentação: decido experimentar a última dieta da moda ou diminuir minha ingestão calórica total ou um nutriente específico (como gordura ou carboidrato).
Nesse momento, passo a pensar nos alimentos de forma dicotômica: alguns são permitidos e outros são proibidos, alguns são saudáveis e outros não, alguns engordam e outros não.
Me sinto no controle, determinada a seguir as regras e a fazer dar certo.
Quando entro em uma restrição de energia e/ou nutrientes, meu corpo entra em um estado de alerta. Isso vem desde os primórdios, de quando éramos caçadores coletores e nosso organismo se adaptou para períodos de escassez de alimentos. O modo de alerta consiste em diminuir o metabolismo para poupar consumo desnecessário de energia.
Nosso corpo também cria mecanismos que aumentam nosso desejo por comida.
E principalmente por comidas ricas em energia, em gordura (o nutriente mais denso energeticamente) e carboidratos (a única fonte de energia para o cérebro)... coincidentemente (ou não) aquelas que foram restringidas da alimentação.
Conforme vão passando os dias, começo a sentir os efeitos da privação. De forma física, pois meu corpo está sentindo falta de energia ou do nutriente específico que restringi, e também de forma emocional, pois aqueles alimentos que restringi são provavelmente aqueles dos quais mais gosto e tenho vontade de comer.
Começo então a me revoltar contra as regras impostas por mim mesma, fico com raiva e não sou mais capaz de controlar a minha alimentação. Acabo me rendendo aos alimentos proibidos e não vou comê-los de forma tranquila, com atenção, sentindo o prazer que aquele alimento geralmente me traz: vou comer de forma exagerada e compulsivamente, sem atenção.
Após esse episódio me sinto culpada, frustrada, decepcionada comigo mesma porque não fui forte e determinada o suficiente. Posso tomar atitudes para me purgar (como em casos de transtornos alimentares) e/ou como mais para me confortar, e volto a me sentir insatisfeita com meu corpo. Então novamente chega segunda feira e decido mais uma vez fazer restrição alimentar e recomeçar uma nova dieta – e assim esse ciclo se repete tantas vezes quanto eu continuar fazendo restrições. E de fato toda restrição leva à compulsão.
Com um certo tempo de restrição pode haver perda de peso referente a gordura, porém também de músculo (tecido que gasta energia) e água (que é armazenada no músculo).
Quando a restrição termina e volto ao meu padrão alimentar anterior ou passo a comer mais, além de agora ter um corpo metabolicamente adaptado para funcionar de forma otimizada, com menos energia (menos comida), volto a ganhar peso. No entanto, o peso que perdi em músculos, gordura e água agora é recuperado na forma apenas de gordura (tecido que não gasta energia), uma maneira de proteção caso haja novamente um período de escassez.
A longo prazo e a cada dieta, há menos perda de peso e mais ganho de peso, e o metabolismo se torna cada vez mais lento.
Quando analisamos a variação de peso de uma pessoa que fez dietas durante muitos anos na vida, é comum encontrarmos o seguinte padrão:
Assim, fica claro que as dietas não promovem emagrecimento sustentável a longo prazo: 95% das pessoas voltam a engordar e, o pior, engordam mais do que o peso inicial. Ou seja, as dietas não só não emagrecem como também engordam.
Sem contar que provocam diversos danos psicológicos e emocionais e são fatores de risco para transtornos alimentares (uma frase clássica diz: "Nem toda dieta leva a transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começou com uma dieta").
Se você se reconhece nessa situação, saiba que você não tem culpa. A culpa é da dieta! Desse mecanismo biologicamente inviável que foi feito para dar errado!
A única maneira de me libertar desse ciclo é parar de me impor restrições, parar de fazer dieta!
E ao invés disso, buscar soluções sustentáveis a longo prazo: entender e modificar comportamentos alimentares, buscar a reconexão com sinais internos de fome e saciedade, entender o comer emocional, trazer a atenção plena sem julgamentos ao comer, comer com prazer, fazer as pazes com a comida e com o corpo.
E se precisar de ajuda no processo, conte comigo!
Para saber mais, recomendo os livros:
- O Peso das Dietas de Sophie Deram
- Em Paz com a Comida de Nathalia Petry e Lydiane Bragunci
- Nutrição Comportamental de Alvarenga et al (para profissionais)